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sexta-feira, 7 de outubro de 2011

migração

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migração como questão filosófica
Filosofia
Escrito por Flávio Tonnetti   
Qui, 14 de Abril de 2011 00:00
Apesar de muitos dos países contemporâneos terem surgido ou se desenvolvido a partir de fluxos migratóriosintensos, migrar deixou de ser visto com bons olhos.
Na história humana sempre foram observadas a movimentação e a transferência de pessoas. Nos casos de exploração das colônias pelas metrópoles, dinâmica que marcou a geopolítica dos últimos séculos, a chegada de outros povos a terras distantes estava associada à dominação. Isto porque esses colonos chegavam nas terras de outros povos que já lá se encontravam – neste caso podemos mesmo nos questionar se poderíamos chamar estas relações de poder 
de migração, e poderíamos querer investigar de que modo isto se daria. Talvez porque imigrar tenha menos o sentido de “tomar para si” e mais o sentido de “entregar-se”.Imigrar significa deixar seu país – e muitas vezes sua própria cultura – para entrar num país novo, tendo muitas vezes que abdicar de todo um universo de signos e valores. Trata-se assim de algo diferente de uma tomada de posse, de uma viagem de passeio ou turismo, ou mesmo de uma experiência temporária de trabalho ou estudos.
Migrar é um movimento permanente em que deixamos algo em busca de algo novo, incerto, e muitas vezes desconhecido. E por que fazemos isso? Por que vieram para o Brasil imigrantes ucranianos, alemães, árabes, judeus, italianos, japoneses? E por que continuam vindo para cá chineses e bolivianos em condições precárias? Por que africanos querem deixar o continente e ocupar um lugar na Europa? E por que latino-americanos e asiáticos desejam cruzar as fronteiras norte-americanas? 
Trata-se certamente de uma questão filosófica: a reflexão sobre a própria vida leva-nos a uma tentativa de mudá-la. Por mais trivial que possa parecer, o ser humano vai em busca da realização de uma boa vida. Ou, ao menos, de uma vida melhor.

Ao pensar naquela clássica questão filosófica "Qual é a vida que vale a pena ser vivida?" somos compelidos à verdade imediata de que a vida que vale a pena não é esta que temos, mas uma que teríamos num lugar distante e diferente. Resultado da impossibilidade do ser humano perante a realidade social concreta e imediata. Impossibilitados de mudar nosso entorno (nosso país ou cultura) mudamos de realidade. Não sendo capazes de mudar a própria realidade, nós é que mudamos. Idéia traduzida na máxima popular: os incomodados que se retirem.

Mas a imigração, muitas vezes, mostra o lado perverso da vida social. Nem sempre podemos mudar o mundo que nos cerca. Nem sempre podemos melhorá-lo.

Nem sempre há espaço para uma efetiva atuação política e para um diálogo efetivo – dinâmica esta entendida como o encontro de uns com os outros em busca da resolução de problemas que afetam ao grupo e que devem ser resolvidos dentro de uma coletividade. Desta reflexão nos resta um aviso, ou um alerta, importante para entender alguns acontecimentos contemporâneos: quando o mundo como um todo for um lugar hostil e difícil, e quando formos incapazes de mudá-lo, não poderemos nos transferir para a Lua.
Por Flávio Tonnetti

 Exílio como experiência libertária
O enraizamento do homem é um conceito ideológico, pois na prática ninguém é enraizado. Falar de raízes faz o homem parecer um legume: fixado na terra. Outra tese fundamental de Flusser diz que para ser homem é preciso assumir o desenraizamento. O exílio, que é a expulsão violenta de pessoas de suas condições originais, pode vir a ser uma oportunidade criativa, um bom método, para que as pessoas se tornem seres humanos no sentido mais pleno da palavra.
O argumento de Flusser desenvolve-se da seguinte maneira: quem é expulso é retirado do seu lugar habital. O hábito é como uma capa ou véu que cobre as questões, as relações, os estados de coisas. No âmbito conhecido e familiar do morador, do sedentário, do nativo, somente as alterações são perceptíveis e informativas, mas não o que permanece (pois parece redundante). No exílio tudo é inabitual, o exílio é um oceano de informações caóticas. Mas a condição de não morador impede que essas informações possam ser trabalhadas como mensagens cheias de sentido, é preciso processar esses dados. Quem não conseguir, será como que engolido no exílio, é questão de sobrevivência. Processar os dados caóticos é inventar, é preciso ser criativo quando se foi expulso de sua pátria. Trata-se aí de uma apropriação positiva do banimento contra o mero "compadecer-se" do exilado. Quem simplesmente ajuda o expulso quer reintegrá-lo no ordinário e habitual. Trata-se da mesma lógica que promove o exílio, ainda que inversamente: os expulsos e banidos eram fatores de perturbação da ordem e foram expulsos para que a pátria pudesse se tornar ainda mais comum e habitual do que antes.
O hábito é como um cobertor de algodão, cobre todos os cantos e abafa os sons, é anestésico, esconde inforamacões. O hábito faz tudo ficar bonito e tranqüilo. Vimos que a boniteza do lar habitual é a fonte do amor à pátria. Tira-se o cobertor e tudo fica monstruoso, inabitual, "entsetzlich" (deslocado). No exílio, onde o cobertor do hábito foi retirado, passamos a perceber de forma mais apurada o mundo e tornamos-nos revolucionários, mesmo que apenas para poder morar no novo lugar.
Para o exilado toda terra nova é América, para quem já mora há muito no mesmo lugar todo território é antigo, mesmo que seja na América. Para Flusser  somente o migrante é verdadeiramente americano, mesmo quando ele migra para outros lugares, antigos ou sagrados, a atmosfera americana está em todo lugar onde ele se sentir sem raízes:

É indiferente para onde se é banido. Para os exilados mesmos todo exílio é terra nova. Mas para moradores originais toda terra tem um outro caráter, a saber, dos hábitos, que cobrem as verdades. Existem países que por hábito se consideram novas (por exemplo, a América, ou a terra de nossos netos, ou a terra dos aparelhos tecnológicos). E existem terras que por hábito são antigas, se tomam como sagradas (por exemplo Jerusalém, ou a terra dos textos lineares, ou dos valores burgueses) (op.cit., p.106).

O exilado toma sempre a terra com um novo caráter, obrigando os que se acham novos a se descobrir como antigos e os antigos a se descobrir como animais habituais. Os exilados são desenraizados que procuram desenraizar tudo a sua volta, para poder lançar novas raízes. Será preciso ter consciência desse processo vegetal, que o homem não é uma árvore ou legume, que não precisar fincar raízes fixas no solo.




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