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segunda-feira, 12 de setembro de 2011

De novo a questão da Burca/Niqab

Leia os textos. Analise, num texto dissertativo, a proibição da burca e nikab na França.
Você concorda com a proibição? Que argumentos tem para defender a idéia? O quê? Está revoltado e não a aprova? Por quê? Argumente.
Pode usar argumentos que encontrar nos meus textos.
Bom trabalho! Dê o máximo de si, sempre.

Texto 1
Proibição à burca na França: oprimir para libertar?
Em 11 de setembro de 2001, terroristas explodiram o World Trade Center, em plena Manhattan, sem dó nem piedade. Em 11 de março de 2004, foi a vez de a Espanha chorar seus mortos. Coincidência ou não, aqui estamos, em mais um dia 11 polêmico para os islâmicos: desde segunda-feira, passou a vigorar, na França, a proibição do uso da burca e do niqab – véu que cobre todo o rosto, deixando apenas um espaço para os olhos – em espaços públicos.
(...)

“Ajo em nome da dignidade da mulher”, disse o presidente Nicolas Sarkozy. “Esconder o rosto (...) coloca as pessoas em questão numa situação de exclusão e de inferioridade incompatível com os princípios de liberdade, igualdade e fraternidade  afirmados pela República Francesa”, completou o primeiro-ministro François Fillon. O discurso de ambos, assim como de muitos grupos feministas, é de libertação das mulheres, que seriam oprimidas por seus maridos e pelo Islã.

A iniciativa convenceu a sociedade, pois, segundo pesquisa realizada pelo Pew Global Attitudes Project, 82% dos franceses aprovam a proibição da burca e do niqab.

Mas... será que os franceses perguntaram para as muçulmanas se a burca e o niqab são realmente uma imposição? Não era uma tarefa muito difícil: a estimativa é que apenas 2.000 mulheres portem essa vestimenta no país. Imagino que França teria capacidade operacional de contatar pelo menos 10% delas para uma sondagem inicial.

Como a resposta provavelmente seria a de que elas querem usar a burca, os líderes franceses já tinham um discurso na ponta da língua: “Mesmo que essa prática seja voluntária, ela não pode ser tolerada em qualquer lugar público, dado o dano que provoca nas regras que permitem a vida em comunidade. É preciso garantir a dignidade da pessoa e a igualdade entre os sexos”, afirmou o governo, em uma mensagem ao Parlamento.

De fato, trata-se de (mais) uma grande lição de intolerância e autoritarismo travestida de “libertação”, algo bem Ocidental ultimamente. Afinal, ao impor a proibição da veste muçulmana, o país não resolve a questão, apenas joga para o âmbito do privado a suposta opressão das mulheres islâmicas.

O texto tenta prevenir-se disso. Além de impor uma taxa de 150 euros para quem violá-la, determina que qualquer pessoa que force outra a usar a burca seja punida com um ano de prisão e o pagamento de 30 mil euros. Mas se supondo, claro, que seja feita alguma denúncia, o que eu tendo a achar bastante difícil sem um trabalho prévio, por exemplo, de proteção à vítima.

Ou seja, não duvido que elas acabem ficando em casa porque não podem mais caminhar livremente com sua vestimenta, seja ela uma opção ou não.

E há ainda uma hipótese pior: e se a comunidade muçulmana decide rechaçar aquelas que seguirem a nova lei, o Estado francês irá intervir aí também? Provavelmente, não.

O mais complicado, acredito, é que a França simplesmente desconsidera o fato de que as mulheres muçulmanas têm cérebro. Ainda as vê como submissas e atrasadas, sem acesso à informação.

Bem, basta olhar as imagens das revoltas no mundo árabe para perceber que elas estavam, sim, nas ruas, participando ativamente dos protestos e expressando suas vontades. Salvo exceções que remontam a tradições tribais ou a regimes ultra-rígidos, como o saudita, as mulheres islâmicas, assim como as mulheres em todo o mundo, têm tido acesso às universidades e estão se organizando para modificar sua condição de vida. Muitas vezes baseadas numa leitura crítica do Corão, e não em sua rejeição.

Uma demonstração disso podem ser as muçulmanas que saíram na segunda-feira determinadas a serem presas pelo governo francês. “Eu quero me vestir como bem entender. Não fico reclamando daquelas ocidentais que saem por aí seminuas, por que elas têm que questionar o que eu uso?”, declarou uma delas.

É a partir do momento em que as vemos como iguais que podemos debater francamente se o uso do véu é ou não uma opressão, sem imposições legais que atropelem qualquer argumentação. A proibição da burca e do niqab é um atraso no caminho de um mundo com mais equidade porque não é construída por meio do diálogo e do convencimento.
(...)

Maíra Kubík Mano é jornalista e mantém o blog 
Viva Mulher. Escreveu este artigo a convite do Opera Mundi.

TEXTO 2
Título original: A burca

por Luiz Felipe Pondé para 
Folha

Você é contra ou a favor da nova lei francesa que proíbe o uso da burca e niqab (véu que só deixa os olhos de fora) em espaços públicos?

Alguns consideram essa lei parte da islamofobia. Outros, manipulação demagógica de Nicolas Sarkozy para ganhar votos da direita xenófoba. Outros ainda fazem "conta" de quantas muçulmanas usam burca ou niqab hoje na França, como se a questão fosse parada no tempo e não implicasse a mobilidade de hábitos privados e públicos que se dá ao longo do tempo e não numa estatística congelada.
Outros veem nesta lei um ato de intolerância com hábitos religiosos e opinam que as pessoas devem ter o direito a seus hábitos religiosos. Eu também acho que devemos ter direito a nossos hábitos religiosos, mas a coisa é mais complexa do que simplesmente "eu acredito em Jesus, você em Elvis, ela em ET, ele em Maomé, mas podemos ser amigos, tá?"
(...)

De minha parte, sou a favor da lei francesa e acho que, sim, não se deve permitir o uso de burcas e niqab (e orações no meio da rua) em países que buscam o convívio secular como modo de vida legítima.

(...)

Grande parte dos muçulmanos não pratica bem a separação entre religião e sociedade ou Estado, assim como "seus irmãos" ortodoxos em Israel. E esses caras não valorizam em nada a ideia de "tolerância". O que os mantém "quietos" é ser minoria.

O crescimento da população islâmica na França tem que ser pautado por um "limite prático" contra a invasão do espaço público por regras religiosas.

Recentemente, uma jovem muçulmana francesa, citada nesta Folha, criticou a lei porque "confundia coisas do governo com coisas de Alá". É uma prova cabal de que essa moça não sabe o que é secularismo e precisa aprender: não há "coisas de Alá" quando falamos de leis ou regras públicas na França.

Não se trata apenas de mal-estar com o crescimento do islamismo na Europa, se trata de mal-estar com a presença pública de formas do fundamentalismo religioso.

O problema não é a mulher sob a burca, mas o forte viés teocrático que cobre essa mulher com a burca. 
TEXTO 3


Reinaldo Azevedo Revista Veja

Parte inferior do formulário
12/04/2011
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, fez ontem duros ataques ao uso da burca, como vocês já devem ter lido. Já fui um admirador mais entusiasmado de Sarkozy. Hoje em dia, eu o considero, assim, um tanto… pop! Um grupo de congressistas franceses estuda criar uma lei proibindo o uso do traje feminino, defendido por algumas correntes do islamismo. Muitos leitores querem saber o que eu acho - na verdade, querem saber se sou favorável à proibição do uso da burca.
Não! Resolutamente, não! Considero a eventual proibição uma exacerbação da vontade do estado sobre a vontade do indivíduo.
Que se note: um cidadão francês tem de viver, claro, segundo as leis francesas. Se correntes do Islã impõem, por exemplo, o chamado casamento arranjado e se a noiva ou o noivo não aceitam a imposição, têm de ter seus direitos protegidos pelo estado. Do mesmo modo, uma mulher não pode ser obrigada a andar de burca se não quer andar de burca. Mas proibir? Aí não dá.
Nas áreas em que as exigências religiosas se chocam com os direitos garantidos pela Constituição francesa, é evidente que o estado tem de fazer valer a sua Carta. Em matéria de religião, a imposição deve ser proibida, não a escolha. Exemplifico, para quem ainda não ligou os pontos, com algo da minha religião: não se pode impor o crucifixo como sinal de adesão à crença, mas não se pode proibi-lo sem que isso caracterize uma inaceitável agressão à liberdade religiosa. E não estou igualando os símbolos, é claro.
A França não pode permitir - e isso tem acontecido, como Sarkozy sabe muito bem - que escolas, estabelecimentos comerciais e até academias de ginástica passem a ser reguladas pelas “leis do Islã”. Isso tem de ser combatido, sim, e duramente. Mas não faz sentido proibir uma mulher de usar a burca se ela quer usar a burca - algumas querem, ainda que isso a muitos pareça impensável. Da mesma sorte, não considero correto que se proíba uma menina islâmica de usar o véu na escola. Por quê?
Conheço bem o debate sobre o caráter laico e universalista do ensino etc e tal. Mas me parece bastante “universalista” reconhecer as escolhas individuais e familiares, desde que, REITERO, de acordo com as leis do país e os direitos garantidos na Constituição.
Há uma grande pressão na França para que até os livros de referência nas escolas sejam reescritos com a, digamos assim, versão islâmica da história etc e tal. Tanto quanto acho que a França não pode proibir a burca, acho que a burca, tomada aqui como símbolo, não pode impor coisa nenhuma à França e a suas escolas.
ENTENDERAM? A BURCA E O VÉU DEVEM CONTINUAR PERMITIDOS EM NOME DOS NOSSOS VALORES, NÃO DOS VALORES DELES.
Ademais, a proibição pode ser contraproducente e funcionar como elemento de mobilização.
Os islâmicos não têm de mudar as leis francesas. Nem as leis francesas têm de mudar por causa dos islâmicos. Eles devem é obedecer-lhes, a exemplo de qualquer outro grupo religioso.
Encerro
Sim, pode-se perguntar por que não podemos exibir crucifixos na maioria dos países islâmicos. Porque nós acatamos a democracia e os direitos individuais como valores inegociáveis, e eles não. Isso quer dizer que somos melhores. Por isso seus hábitos são tolerados no Ocidente, embora eles não tolerem os nossos.

Por Reinaldo Azevedo

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