Escreva um texto em prosa no qual você se posicione a respeito da pressão popular de moradores de Higienópolis, em São Paulo, para excluir, do projeto do metrô, uma parada na Avenida Angélica.
Gente limpinha
HIGIENÓPOLIS REJEITA O METRÔ, MAS NÃO SABE QUE CHIC MESMO É PODER DISPENSAR O CARRO
O nome já diz tudo. Higienópolis, um dos endereços mais nobres de São Paulo, onde os apartamentos são lançados, ainda na planta, a R$ 10 mil o metro quadrado. Lugar de gente limpinha. Lugar também de higiene social, onde só há espaço para gente bonita, rica, elegante e também muito bem educada – protegida, é claro, por seguranças fortemente armados. Não por acaso, é o bairro com a maior concentração de tucanos do mundo. A ave mais nobre e mais plumosa, da espécie FHC, tem seu ninho instalado ali na Rua Maranhão, curiosamente o estado com o pior Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil.
E eis que Higienópolis se transforma no assunto mais comentado da semana nas redes sociais brasileiras porque é também um lugar de gente diferenciada. Onde não há espaço para estações de metrô. O ponto de parada da linha 6, que ligará o centro à zona oeste de São Paulo, foi deslocado para a Avenida Pacaembu porque os moradores de Higienópolis protestaram contra a obra. Pobres? Ai, que nojo. Quanto mais longe, melhor.
De repente, os tucanos entram em crise existencial porque se dão conta de que o “povão”, como bem disse FHC, foi definitivamente perdido para o PT. E o governador Geraldo Alckmin também leva uma sonora vaia no 1º de Maio, quando discursa diante de trabalhadores, e fala que os tucanos precisam “sentir o cheiro do povo”. A impressão que se tem é a de que os tucanos só gostam das obras bilionárias do metrô – em especial das relações com fornecedores como a companhia francesa Alstom – e não do metrô em si. Quantos deles encaram uma estação lotada todos os dias? Ou mesmo um ônibus?
Essa mentalidade higiênica é típica daqueles que, todos os dias, praguejam contra o Brasil. É a turma do “Cansei”, que ganha muito dinheiro aqui, vendendo ou produzindo para o povão desdentado, mas adoraria viver alhures. O curioso é que são os mesmos que, quando desembarcam na Europa ou em Nova York, andam de metrô, pedalam em bicicletas públicas e ficam deslumbrados com a paz social alheia. Será que o segredo dessa paz social não é exatamente o fato de todos se reconhecerem como iguais e donos dos mesmos direitos?
Mas, não. O Brasil, infelizmente, ainda é o país dos muros, dos carros blindados e do “apartheid social”, como bem definiu o senador Cristovam Buarque (PDT-DF). A sorte é que existem as redes sociais. Higienópolis virou motivo de piada no Twitter e no Facebook. E o “povão” dessa gigantesca massa cibernética convocou um churrasquinho de gato, para este fim de semana, diante do shopping Pátio Higienópolis. Para quê? Para mostrar que somos pobres, mas somos limpinhos.
Leonardo Attuch é jornalista e idealizador do Brasil 247
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Metrô: recusa de Higienópolis causa protestos na web
Leonardo Soares/AE
"Polêmica. Esquina da Angélica com a Sergipe: associação diz que bairro não é contra metrô"
A decisão do Metrô de instalar uma das estações da futura Linha 6-Laranja no Pacaembu em vez de em Higienópolis provocou piadas e protestos ontem na internet. Apesar de a companhia negar veementemente que tenha cedido à pressão popular de moradores de Higienópolis para excluir do projeto uma parada na Avenida Angélica, o assunto à noite se tornou o mais comentado do Twitter brasileiro e foi discutido por pessoas também de outros Estados.
Em meio à polêmica, ainda surgiu na rede abaixo-assinado a favor da estação. O texto diz que a decisão do Metrô foi 'preconceituosa' e destaca que a obra é 'desejo de milhões de paulistanos'.
No Facebook, convite para 'churrasco diferenciado em frente ao Shopping Higienópolis' para mostrar que 'ricos não chegam aos pobres, mas pobres, sim, facilmente chegam aos ricos' tinha sido 'aceito' por 28.468 pessoas até 23h30. O anúncio do evento no sábado promete levar 'farofa, carne de gato, cachorro, papagaio e som' para a Avenida Higienópolis.
Internautas de outras cidades também comentaram. 'Tragam o metrô de Higienópolis a Fortaleza!', postou Henrique Araújo. 'Em Florianópolis, metrô seria salvação. Em Higienópolis, o povo não quer. Mundo doido', disse Alessandro Bonassoli.
O novo projeto da Linha 6-Laranja foi apresentado na semana passada em audiência pública. Com 15,3 km, deve ir da estação São Joaquim, na região central, à Vila Brasilândia, na zona norte. Apelidada de 'linhas das universidades' por prever estações perto de seis centros de educação superior, como PUC e Mackenzie, o ramal previa uma parada na Angélica, onde atualmente há prédio residencial e supermercado. Com a mudança, a estação foi para perto da Faap, em local ainda não definido.
'Quando assumi essa pasta, encontrei um projeto que tinha a Estação Angélica a 650 metros de outra, a Higienópolis/Mackenzie. Ficou desbalanceado e por isso refizemos os estudos técnicos. Quando os moradores vieram aqui, disse a eles que já tínhamos desistido. Não teve relação nenhuma com pressão', diz o secretário dos Transportes Metropolitanos, Jurandir Fernandes. 'E quero manifestar minha indignação com pessoas que lutam para não ter um serviço como o Metrô, quando há um universo de outras pessoas que serão beneficiadas.'
A Associação Defenda Higienópolis comemorou a decisão, mas tentou se desvencilhar da imagem de elitista. 'Nosso bairro tem uma grande população de terceira idade, que costuma fazer tudo a pé, então haveria uma descaracterização do bairro. Mas o fundamental é que perderíamos o supermercado que é o único local que temos 24 horas como loja de conveniência', diz o presidente, Pedro Ivanow. 'Um dos pontos que a associação levantou era a pouca distância entre uma estação e outra. Higienópolis não é contra o metrô.' Para ele, piadas e protestos na internet são 'parte da democracia'. E é 'extremamente positivo' o movimento de internautas pedir paradas em seus bairros. 'O metrô é uma necessidade enorme da cidade, principalmente nas regiões periféricas.'
REAÇÕES NO TWITTER
Rodrigo Balan
'A mesma elite que elogia metrô em cada esquina de Londres e Paris barra a chegada da estação em Higienópolis'
Samuel Squarisi
@srsquarisi
'Quando o trânsito parar por tantos carros nas ruas, acho que os moradores de Higienópolis mudarão de ideia ou comprarão helicópteros'
Josué de Carvalho
@Josucarv
'Higienópolis não quer metrô. Nós, em Salvador, depois de 12 anos, temos 6 km prontos que não funcionam. É mole?'
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O METRÔ DE HIGIENÓPOLIS
Postado em 11/05/2011 às 23:16 por Walcyr Carrasco | 34 comentáriosNUNCA VI MAIOR ABSURDO!Li hoje que o governo paulista desistiu da estação de metrô que seria construída na Avenida Angélica por pressão dos moradores de Higienópolis. O motivo real: boa parte dos habitantes não quer a mistura de classes que esse tipo de transporte pode causar. Argumentação: a maioria dos habitantes do bairro possui carro.Bem, que exista um grupo capaz de lutar contra o metrô, até acredito. Sempre achei que a elite paulistana é burra. O problema é que alguém lhe dê ouvidos. Não é o governo estadual que vive defendendo o uso de transporte coletivo? Mas nesse caso vai privilegiar os donos de carros? E a Avenida Angélica não se tornou há tempos um pólo de negócios com, inclusive, novos prédios comerciais em construção? As pessoas que trabalham lá não têm direito a metrô?Uma das soluções comentadas é mais tosca ainda: construir a estação na Praça Charles Muller, junto ao Estádio do Pacaembu. Perfeito para dias de jogo. Mas, no cotidiano, há muito mais gente trabalhando na região da Angélica do que na do Pacaembu. A estação no Pacaembu atenderá os estudantes da FAAP também. Mas a da Angélica também atenderia. E… por que não construir as duas?O pior é que esse filme já passou. Na época da construção do Shopping Higienópolis um grupo de moradores foi contra. Hoje sabe-se que o shopping valorizou a região. E vive cheio de… habitantes locais! Provavelmente os mesmos que eram contra!A discussão pegou fogo na rede. Inclusive por causa da justificativa do documento com mais de tres mil assinaturas que é contra a estação. Entre outras coisas, diz que o metrô traria pessoas “diferenciadas” . Um internauta propôs que a estação tenha uma entrada social e outra de serviço. Pura gozação para demonstrar o absurdo da cabeça dessas pessoas.Em outro momento, o documento diz que seria uma maneira de evitar que aumentem as “ocorrências indesejáveis”. Devem estar se referindo a assaltos. Tenho uma má notícia: há assaltos em Higienópolis e faz tempo. Sei de gente que já foi assaltada duas, três vezes, a caminho de casa. Ou em plena Avenida Higienópolis, de dia. O fato é que assaltos existem na cidade toda. Faz falta uma boa segurança pública. Na cidade inteira.A direção do metrô informou que a estação ficaria muito “perto” de outras duas. A 600 metros da Mackenzie e a 1.500 metros da Cardoso. As duas nem existem, é claro. E quem já passou pela região sabe que ela é montanhosa. Desafio o diretor que cometeu tal asneira a andar os 1.500 metros ou, vá lá, 600 metros, de subidas e descidas. Ficará com varizes. Imagine fazer isso todo dia! Estações de metrô, por definição, devem ser próximas, justamente para facilitar o uso.Confesso: sou morador de Higienópolis. Adoro o bairro. Geograficamente é uma ligação óbvia para os bairros da Zona Oeste. Vivo por aqui: vejo os ônibus cheios, a dificuldade de locomoção.Desistir da construção do metrô por pressão de uma elite é algo que não esperava mais ver neste século. Ainda mais diante de um documento com cerca de 3.500 assinaturas. É um número pífio diante da quantidade de usuários do metrô. Afinal, há um projeto de transporte coletivo do governo do Estado de São Paulo? Ou não há?Está sendo planejado um churrascão sábado, em frente ao shopping, em protesto contra a desistência da estação. Acho que ainda vem coisa pela frente!
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