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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Tema: competitividade e inclusão de deficientes

Leia os textos, extraia uma tese. Escreva uma dissertação.
Cada um corre do jeito que pode Rubem AlvesHavia crianças com síndrome de Down. E todas elas trabalhavam com a mesma concentração que as outras crianças. Pareciam-me integradas nas tarefas escolares, como as crianças ditas "normais". Perguntei ao diretor sobre o segredo daquele milagre. Ele me deu uma resposta curiosa. Não me citou teorias psicológicas sobre o assunto. Sugeriu-me ler um incidente do livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll. Fazia muitos anos que eu lera aquele livro. E eu o lera como literatura do absurdo, coisa para crianças.
Alice, seduzida por um coelho que carregava um relógio, seguiu-o dentro de um buraco que, sem que ela disso suspeitasse, era a entrada de um mundo fantástico. De repente, ela se viu dentro de um mundo completamente desconhecido e maluco, com o chapeleiro e o gato que ria.
No incidente que nos interessa, encontramos Alice e seus amigos completamente molhados -haviam caído dentro de um tanque. Agora, tinham um problema comum a resolver: ficar secos. O que fazer?
A turma da Alice, que era formado pelo pássaro Dodô -esse pássaro existiu de verdade, mas foi extinto-, um rato, um caranguejo, uma marmota, um pombo, uma coruja, uma arara, um pato, um macaco, todos diferentes, cada um do jeito como seu corpo determinava, todos eles pensando numa coisa só: o que fazer para ficar secos.
O pássaro Dodô sugeriu uma corrida. Correndo o corpo esquenta e fica seco. Mas Alice queria saber das regras. O pássaro Dodô explicou:
"Primeiro marca-se o caminho da corrida, num tipo de círculo (a forma exata não tem importância), e então os participantes são todos colocados em lugares diferentes, ao longo do caminho, aqui e ali. Não tem nada de '"um, dois, três, já'. Eles começam a correr quando lhes apetece e abandonam a corrida quando querem, o que torna difícil dizer quando a corrida termina."
Notem a desordem: um círculo de forma inexata, os participantes são colocados em lugares diferentes, aqui e ali, e não tem "um, dois, três, já", começam a correr quando lhes apetece e abandonam a corrida quando querem.
Assim, a corrida começou. Cada um corria do jeito que sabia: pra frente, pra trás, pros lados, aos pulinhos, em zigue-zague... Depois que haviam corrido por mais ou menos meia hora, o pássaro Dodô gritou: "A corrida terminou!" Todos se reuniram ao redor do Dodô e perguntaram: "Quem ganhou?". "Todos ganharam", disse Dodô. "E todos devem ganhar prêmios."
Acho que o Lewis Carroll estava expondo, de forma humorística, as suas ideias para a reforma dos currículos da Universidade de Oxford, ideias essas que ele não tinha coragem de tornar públicas, por medo de perder seu lugar de professor de matemática.
"Curriculum", no latim, quer dizer "corrida", "lugar onde se corre". Uma corrida, para fazer sentido, tem de ser entre iguais, não faz sentido por araras, ratos e caranguejos correndo juntos. Não faz sentido colocar os "diferentes" a correr junto com os "iguais" Aquilo a que se dá o nome de integração em nossas escolas é colocar os "portadores de deficiência" correndo a mesma corrida dos chamados de "normais". Nessa corrida, os "deficientes" estão condenados a perder. A corrida do pássaro Dodô é diferente: cada um corre do jeito que sabe e pode, todos ganham e todos recebem prêmios...


http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0609201102.htm   

 Projeto de inclusão de deficientes nas escolas não é o suficiente
Grasiela Cardoso
Vanessa Sayuri Nakasato

Enviadas especiais a Campos do Jordão *
Elaborar dezenas de projetos para incluir deficientes físicos nas escolas não basta. Antes de mais nada, é necessário possibilitar acessos em todo ocomplexo escolar. Essa foi a conclusão dos profissionais que debateram “Educar para quê?”, no encontro DNA Brasil – 50 Brasileiros Param para Pensar a Vocação do País, em Campos do Jordão, São Paulo, entre os dias 16 e 18 de setembro.
Embora tenha aumentado o número de portadores de deficiência físicas nas escolas, segundo números do Ministério da Educação (MEC), a porcentagem é ínfima e o Brasil ainda é um país excludente.
O psicólogo italiano Contardo Calligaris, que estuda a exclusão social do Brasil, afirmou com exclusividade para o site Aprendiz que é impossível projetos de inclusão funcionarem quando a cidade onde o deficiente vive não o oferece acesso físico para que ele tenha uma vida normal.
No caso da educação, o resultado jamais será completo à criança especial. Ela poderá se sentir bem ao conviver com coleguinhas que a aceitam, mas se sentirá frustrada quando se deparar à realidade e começar a encontrar obstáculos à sua frente. “É como se a criança pensasse “eles não pensaram em mim” ao encontrar uma escadaria ou um simples degrau”, explica Calligaris.
Ele conta que no Estados Unidos, onde morou nos últimos 10 anos, existe uma lei obrigando a instalação de rampas e elevadores em todos os lugares públicos e privados.
“Quando eu era professor na Universidade da Califórnia, em Berkeley, alguns alunos estrangeiros perguntavam se os americanos sofriam muitos acidentes. Eles comentavam admirados que nos Estados Unidos há muito deficiente físico. Não há mais nem menos que nos outros países. A diferença é que eles vão para as ruas, circulam, não ficam trancafiados em casa como no Brasil”, conta.
O psicólogo diz que o Brasil precisa aprender a aceitar e a conviver com portadores de necessidades especiais, principalmente nas escolas. Conforme Calligaris, é muito saudável para a criança crescer com as diferenças e trata-las de forma natural. “Quem exclui é tão excluído quanto a pessoa está sendo excluída, porque quem não convive com o outro se empobrece.”
Na opinião do educador e escritor Rubem Alves, é muita hipocrisia falar em inclusão de deficientes nas escolas.“As instituições educacionais são feitas em linhas de montagem. Muitas têm lindos projetos, belas idéias, mas são poucas as que adaptam seus ambientes. Não tem como tratar a inclusão de deficientes sem espaço físico para elas.”
O consenso de todos os debatedores do assunto é que as barreiras arquitetônicas são apenas o começo de um enorme problema. E para o processo inclusivo acontecer, é preciso que haja acessibilidade a todos.
*as jornalistas foram convidadas pelo DNA Brasil.


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