Com a presença incessante dos meios de comunicação de massa o homem passa a ser e a viver uma vida sonhada e idealizada, onde a ficção mistura-se à realidade, e vice-versa, incorporando-se a realidade vivida pelo indivíduo. Interessante citar, e tudo leva a crer que, a partir das idéias de Debord, Eugênio Bucci apresenta as cinco leis não escritas (não explicitadas) da televisão brasileira no livro Brasil em Tempos de TV (Boitempo Editorial, 1997). Sendo a principal o efeito sanduíche realidade-ficção/ficção-realidade: os telejornalismos (o reino da realidade) se organizam como melodramas (o reino da ficção), e as novelas (reino da ficção) vai se alimentar no reino da realidade. Quem nunca viu os problemas do mundo real sendo explicitados nas telenovelas? Decorre daí que o reino da notícia bebe no da ficção, e vice-versa. Emoção e razão formatam o pêndulo a ser seguido. Produzindo um entendimento parcial, fragmentado, e nunca pleno do mundo dos acontecimentos. Num desdobramento, este plano de ação por parte das emissoras perpassa toda a programação da televisão, principalmente no horário noturno. O esquema é o seguinte: um programa alicerçado no real (noticiário, documentário, grandes reportagens, etc.) e em seguida outro no reino da ficção (novelas, filmes, etc.), e por aí vai se alternando. Debord, enfaticamente, observa que esta imagem manipulada da realidade pelos meios de comunicação de massa faz com que um outro reino, o das emoções (raiva, felicidade, etc.), assim como a justiça, a paz e a solidariedade sejam apresentadas como espetáculos. Os meios de comunicação de massa criam a partir daí uma realidade própria para que a sociedade se solidarize e crie novos critérios de julgamento e justiça conforme os seus conceitos manipuladores.
(Sociedade do Espetáculo - Guy Debord)JEAN BAUDRILLARD, a simulação desencantada
José Aloise Bahia
Na sua grande totalidade, a programação da televisão desempenha um papel fundamental ao simular através das imagens o mundo dos acontecimentos, através de informações e notícias, significando o mascaramento da diferença entre o real e o imaginário, entre o ser e a aparência. Elas potencializam o simulacro, o qual é passado como se fosse o real. A TV como a fotografia e a policromia embelezam, enfeitam, espetacularizam o real. Fabricam um hiper-real, um real mais real e mais interessante que a própria realidade. Acresce-se a isto cada vez mais no plano técnico e artificial, instrumentos intensificadores do hiper-real, a utilização da internet, sites, e-mails, telefones e programas de edição e simuladores em computadores num contínuo show de simulação do espaço hiper-real e espetacular, que mexe com o desejo de consumo de todos.
Este hiper-real simulado é fascinante, pois é o real intensificado na forma, cor, tamanho e propriedades. Parece um mundo de sonhos, que existe para nos servir, e que nos modela através da publicidade com suas imagens sedutoras. O mais certo neste ambiente é que entre as pessoas estão a tecnologia e as suas mensagens, notícias, suportes e imagens criadas. Na sua totalidade, a mediação não é mais feita de homem para homem, e sim a partir destes meios, ou seja, de simulações. A função dos meios de informação agora não é somente informar, mas também refazer o mundo a sua maneira e voz, é hiper-realizar o mundo e transformá-lo em espetáculo.
O Povo Tasaday - Um exemplo bastante grotesco de como atua o simulacro a partir da televisão é a história da criança que nunca tinha visto uma galinha na vida. Esta criança fora criado até os seus cinco anos num grande centro urbano e nunca tinha ido à zona rural. Num belo final de semana, os pais levaram-na para passear pelo interior do país. Assim que a família chega ao hotel fazenda foram para um imenso quintal. Após alguns minutos, a criança retorna de forma animada e afirma para sua mãe: “Venha ver a novidade, venha ver a novidade!”. “O que foi?” Perguntou a mãe. A criança de imediato responde: “Mamãe, venha depressa, acabei de ver um Knorr”. Este é o ponto nevrálgico da implosão do signo lingüístico: o signo galinha confunde-se com a própria manufatura, o Caldo de Carne Knorr. A isto, Baudrillard chama de implosão do sentido causado pela mídia no signo. O signo verdadeiro (galinha) perde o seu sentido original, e é ultrapassado pelo seu simulacro (a mercadoria Caldo de Carne Knorr divulgado na TV), a qual tem uma figura (imagem) de uma galinha branca (carijó) num fundo amarelo. Esta imagem mental (a galinha no fundo amarelo) é o fator contaminador, no nosso exemplo, do processo de implosão do signo lingüístico. Eis a realidade virtual.
(Simulacros e Simulações - Jean Baudrillard)
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