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domingo, 18 de setembro de 2011

Na Bienal com Bechara


Na Bienal com Bechara

Domingo passado, a convite do crítico literário e poeta Italo Moriconi, curador do Café Literário da Bienal do Rio, estive no Riocentro para falar sobre o tema “Última flor do Lácio, inculta e bela” ao lado do maior gramático brasileiro vivo, o pernambucano Evanildo Bechara. A companhia em si já era honrosa para quem, nunca tendo sido professor de português, aborda a língua com um olhar de cronista. Membro da Academia Brasileira de Letras, ex-discípulo do lendário Manuel Said Ali, Bechara é, aos 83 anos, aquilo que se poderia chamar deo cara – inclusive por seu papel de frente na definição dos casos mais cascudos da nova ortografia.
Acontece que aquele encontro na Bienal – com mediação do professor André Valente – foi muito além de simplesmente honroso. Nunca tendo conversado com Bechara até então, eu já sabia que ele se distingue pelo cavalheirismo e pela visão arejada da língua, bem distante do mau humor autoritário de gente que manja muito menos do assunto. Ainda assim, fiquei surpreso com sua resposta quando alguém da plateia fez a pergunta inevitável: as abreviações usadas pelos jovens para conversar na internet e no SMS fazem mal ao português?
Coube-me responder primeiro. “Não fazem mal nenhum, são só uma brincadeira, um código, tão inofensivo quanto a velha língua do P. Pior era na minha geração, em que os jovens não escreviam nada, só viam televisão”, eu disse. E pensei: “Pronto, desta vez duvido que o mestre Bechara consiga manter o tom de generosa amabilidade com que vem concordando comigo em tudo. Não é possível que ele veja com bons olhos esse papo de ‘kd vc, bjuss’.”
Pois eu não podia estar mais equivocado. Bechara não tem o menor medo do SMS e ainda fez a plateia cair na risada quando disse: “O problema não é abreviar palavras, isso se faz também na taquigrafia. O que empobrece a língua mesmo é o rã-rã. Você vai lá? Rã-rã.”

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