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quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Escreva uma carta a Paulo Coelho, discutindo a questão da pirataria.


Escolha:

PROPOSTA 1 - ESCREVA UM TEXTO ARGUMENTATIVO SOBRE A PIRATARIA.

2 - CARTA DISSERTATIVA A PAULO COELHO, CONCORDANDO COM ELE, OU NÃO.

3 - UMA NARRATIVA EM QUE ALGUÉM TENHA ROUBADO UM PROJETO CIENTÍFICO.

TEXTO 1

" Cresci com as orelhas quentes de ouvir vovô se queixar de lhe terem roubado poemas e sambas. Já bem velhinho suspirava: "Ai, meus versos".

Vovô, mega inteligente, ganhara bolsa de estudos na França,mas o pai não deixou ir. Tristonho, tornou-se tabelião ( não era bem isso, ele tinha um cartório de registros). Fazia versos, nas horas vagas - e escondido da vovó que tinha ciúme de tudo!

Era bom nas trovas. Mas, não tendo prestígio e sendo crédulo, lia poemas em voz alta para os amigos. E roubavam os poemas dele - e os sambas. E jamais conseguiu provar os plágios''.

Sou tão contra a pirataria! Afinal, pirataria não é um plágio?

Josemilda Rosa Ranieri, enfermeira aposentada e ex-freira. 

TEXTO 2

Pirateiem meus livros




artigo publicado em 29 de maio 2011 no jornal Folha de São Paulo

Em meados do século 20, começaram a circular na antiga União Soviética vários livros mimeografados questionando o sistema político. Seus autores jamais ganharam um centavo de direitos autorais.
Pelo contrário: foram perseguidos, desmoralizados na imprensa oficial, exilados para os famosos gulags na Sibéria. Mesmo assim, continuaram escrevendo.
Por quê? Porque precisavam dividir o que sentiam. Dos Evangelhos aos manifestos políticos, a literatura permitiu que ideias pudessem viajar e, eventualmente, transformar o mundo.
Nada contra ganhar dinheiro com livros: eu vivo disso. Mas o que ocorre no presente? A indústria se mobiliza para aprovar leis contra a “pirataria intelectual”. Dependendo do país, o “pirata” -ou seja, aquele que está propagando arte na rede- poderá terminar na cadeia.
E eu com isso? Como autor, deveria estar defendendo a “propriedade intelectual”. Mas não estou. Piratas do mundo, uni-vos e pirateiem tudo que escrevi!
A época jurássica, em que uma ideia tinha dono, desapareceu para sempre. Primeiro, porque tudo que o mundo faz é reciclar os mesmos quatro temas: uma história de amor a dois, um triângulo amoroso, a luta pelo poder e a narração de uma viagem. Segundo, porque quem escreve deseja ser lido -em um jornal, em um blog, em um panfleto, em um muro.
Quanto mais escutamos uma canção no rádio, mais temos vontade de comprar o CD. Isso funciona também para a literatura: quanto mais gente “piratear” um livro, melhor. Se gostou do começo, irá comprá-lo no dia seguinte -já que não há nada mais cansativo que ler longos textos em tela de computador.
1 – Algumas pessoas dirão: você é rico o bastante para permitir que seus textos sejam divulgados livremente.
É verdade: sou rico. Mas foi a vontade de ganhar dinheiro que me levou a escrever?
Não. Minha família, meus professores, todos diziam que a profissão de escritor não tinha futuro. Comecei a escrever -e continuo escrevendo- porque me dá prazer e porque justifica minha existência. Se dinheiro fosse o motivo, já podia ter parado de escrever e de aturar as invariáveis críticas negativas.

2 – A indústria dirá: artistas não podem sobreviver se não forem pagos.
A vantagem da internet é a divulgação gratuita do seu trabalho.
Em 1999, quando fui publicado pela primeira vez na Rússia (tiragem de 3.000 exemplares), o país logo enfrentou uma crise de fornecimento de papel. Por acaso, descobri uma edição “pirata” de “O Alquimista” e postei na minha página. Um ano depois, a crise já solucionada, eu vendia 10 mil cópias.
Chegamos a 2002 com 1 milhão de cópias; hoje, tenho mais de 12 milhões de livros naquele país.
Quando cruzei a Rússia de trem, encontrei várias pessoas que diziam ter tido o primeiro contato com meu trabalho por meio daquela cópia “pirata” na minha página.
Hoje, mantenho o “Pirate Coelho”, colocando endereços (URLs) de livros meus que estão em sites de compartilhamento de arquivos. E minhas vendagens só fazem crescer -cerca de 140 milhões de exemplares no mundo.
Quando você come uma laranja, precisa voltar para comprar outra. Nesse caso, faz sentido cobrar no momento da venda do produto.
No caso da arte, você não está comprando papel, tinta, pincel, tela ou notas musicais, mas, sim, a ideia que nasce da combinação desses produtos.
A “pirataria” é o seu primeiro contato com o trabalho do artista.
Se a ideia for boa, você gostará de tê-la em sua casa; uma ideia consistente não precisa de proteção.
O resto é ganância ou ignorância.
_________________
PAULO COELHO , escritor e compositor, é membro da Academia Brasileira de Letras. É autor de, entre outros livros, “O Alquimista” e “A Bruxa de Portobello”.http://paulocoelhoblog.com/2011/05/ 30/pirateiem-meus-livros/ 


TEXTO 3 (  NÃO DEIXEM DE LER)



DECEPÇÃO PESSOAL

Sem proteção sociedade se paralisaria

Artigo publicado no penúltimo domingo (29 de maio de 2011), pelo jornal Folha de São Paulo, de autoria do renomado escritor e compositor Paulo Coelho, intitulado “Pirateiem meus livros”, é mais uma daquelas decepções difíceis de esquecer, ainda mais vinda daquele que sempre tive como um dos meus ídolos.
Explico: a música sempre esteve presente em minha vida, e costumo dizer, foi ela que me levou à paixão, no Direito, pelo tema da propriedade intelectual, dando o estímulo para que eu possa exercer a advocacia, no dia-a-dia, de matéria tão apaixonante. Da música, trago as incríveis lembranças que as letras compostas pela parceria Paulo Coelho e Raul Seixas, me proporcionaram. Verdadeiras obras primas da música brasileira, onde a afinada sintonia musical, com as mensagens difundidas por aquelas letras, faziam (e fazem), com que refletíssemos sobre os mais profundos sentimentos; a loucura e a sanidade; a vida e a morte; o medo e a coragem.
Nada mais frustrante, que ler, do mesmo criador que admirei, frases do tipo: “E eu com isso? Como autor, deveria estar defendendo a propriedade intelectual. Mas não estou. Piratas do mundo, uni-vos e pirateiem tudo que escrevi...”. No mínimo, isso representa apologia a um crime, pois para quem não sabe (e textos infelizes como este contribuem para isso), a pirataria que ele propõe, é crime. A sociedade passou a conviver tanto com este “fenômeno”, que até uma pessoa “esclarecida”, recordista em venda de livros, fomenta a prática de tal crime. O que mais pensar... Viva a sociedade alternativa?
Um membro da Academia Brasileira de Letras, como o é, não poderia ter tal discurso. O homem que foi preso pela ditadura, ajudou a revolucionar o rock brasileiro, redescobriu a fé, e se transformou em um dos escritores mais lidos do mundo, com mais de 100 milhões de exemplares vendidos, não poderia pulverizar, com tanta simplicidade, uma prática criminosa. Aí a minha frustração.
Pergunto se a banda “Planet Hemp”, comandada pelo talentoso Marcelo D2, que teve no passado shows suspensos por alegada apologia às drogas fez algo de diferente... Será que as editoras que detêm direitos autorais sobre as obras do “mago” poderiam pregar a deslavada cópia dos seus livros? Também pergunto se a sua condição financeira atual fosse de dificuldade, teria ele o mesmo discurso? Apesar de ele mencionar o contrário, na pérola que fez publicar, eu duvido.
O texto é infeliz, e, fomenta a criminalidade. Pensamento contrário somente seria admissível, se o nosso legislador deixasse de tipificar a violação dos direitos autorais como um crime. Aí sim, o artigo publicado pelo meu ex-ídolo, faria algum sentido.
Quem investiria em arte, cultura, novas tecnologias, em novos medicamentos, se não houvesse proteção à propriedade? Sem proteção conferida pela lei, e sua correta aplicação, estaríamos caminhando para uma sociedade paralisada no tempo, em que as descobertas para serem trazidas à população, demorariam a surgir, em tempo similar ao que separou a carroça dos veículos automotores. E aí sim, poderíamos cantar: “Eu nasci, há dez mil anos atrás...”
Progresso e proteção; é disso que precisamos!
Tente outra vez, dileto Mago!

Márcio Costa de Menezes e Gonçalves é advogado especializado em Propriedade Intelectual, presidente do ICI - Instituto do Capital Intelectual, primeiro Secretário Executivo do Conselho Nacional de Combate à Pirataria, do Ministério da Justiça e sócio de De Vivo, Whitaker, Castro e Gonçalves Advogados.

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